Nasci em Itapetim, distrito do município de São José do Egito, no interior de Pernambuco. Os meus pais eram camponeses e tiveram treze filhos, dos quais sete cegos e seis sem deficiência visual. Quando eu era criança, a minha família passava por muitas dificuldades financeiras, além termos era muito trabalho para captar água.
Nessa época, uma pessoa cega no campo era considerada algo ruim, porque em teoria não conseguiria ajudar a cuidar da plantação de milho, por exemplo. Mas, no meu caso, meu pai me ensinou a abrir as covas para plantar e eu o auxiliava. Quando eu tinha sete anos de idade, precisei me distanciar um pouco da família, para poder ter acesso à educação. Vim para João Pessoa, estudar no Instituto dos Cegos da Paraíba, onde eu me alfabetizei e estudei até os 15 anos, no esquema de internato.
No Instituto, tive alguns privilégios, como ter um uma biblioteca em braille à disposição. Eu adorava passar horas lendo, viajava nas histórias dos livros. Eram mundos que se abriam em minha cabeça. Aos 10 anos, eu já sabia datilografar, aprendizado fundamental para a minha profissão de jornalista. Cursei meu ensino médio no Liceo Paraibano. Naquele tempo, escolhíamos entre científico, clássico e outros. Eu cursei o pedagógico e quando me formei, dei aula no ICPAC por um tempo.
Desde os 16 anos, eu sempre dizia que queria ser jornalista. Tentaram me desencorajar, mas o que diziam entrava por um ouvido e saía pelo outro, porque minha vontade de seguir a profissão era muito maior. Acredito que enveredei nesse caminho por influência da biblioteca do Instituto. Eu era apaixonada por esse universo. Fiz vestibular para entrar na turma do ano de 1978 do curso de Comunicação Social - jornalismo da UFPB, era a segunda turma do recém criado curso. Na faculdade, tive grandes mestres, como Sebastião Martins, Fausto Neto, José Luis Braga e Jório Machado, que era dono de um jornal, onde eu fiz quatro grandes reportagens com freelancer.
Quando eu terminei o curso, em 1981, fui chamada para trabalhar no Jornal O Norte. Eu era repórter da seção geral e acabava tendo bastante dificuldade para fazer as matérias na rua, porque eu tinha que achar os lugares sozinha. Foi uma grande superação. Na verdade, eu nem entendo como aquilo acontecia. Era um trabalho jornalísto feito a algumas mãos, porque eu precisava de ajuda para conseguir chegar até os entrevistados. Achar uma determinada sala, por exemplo. Quando eu ficava de plantão no jornal, fazia matérias para outras editorias, como política e cultura, onde entre evistei grandes personalidades, como Maria Zilda e Bibi Ferreira. Também fazia as coberturas de congressos científicos, porque eu gostava de ler e me desempenhava bem no trato do debate acadêmico. Eu era a única cega da redação, mas era a que mais gostava de ler.
Eu passei quase nove anos no jornal, quando migrei por algum tempo para Jornal A União. Em 1993, apareceu uma oportunidade de um concurso para professor substituto, na UFPB. Pouco tempo depois, lançaram um outro concurso, dessa vez para ser efetiva. Passei, e desde de 1994 estou como professora do curso de jornslismo da Universidade Federal da Paraíba. Fiz o meu doutorado em na PUC de São Paulo, pesquisando sobre semiótica, uma das áreas da comunicação.
Durante a minha vida, também escrevi muitas crônicas e contos, que foram publicados na minha extinta coluna em A União por anos. Publiquei alguns livros, como Tia Lila, Era Uma Vez Uma Vírgula e Já Não Há Golfinhos no Tejo. Também mantenho meu Blog: www.barradosnobraille.net; Atualmente, colaboro esporadicamente com o Instituto dos Cegos fazendo formações, como o ensino do manuseio da linha braille. Sou muito grata a essa casa, que foi a responsável pela minha formação e me deu tantas oportunidades.
Comentários