Logomarca do Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha

Neide trabalhando, ao computador.

Nasci em 1966, na cidade de São João do Cariri/ PB. Meus pais, Antônio Bezerra de Farias e Maria do Carmo Araújo, tiveram 2 filhos cegos, eu e outro bebê que morreu pouco tempo depois de nascer. Eu fui criada com 5 irmãos, e como a mais velha, sempre tive bastante apego à minha família.

Eu cheguei no Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha aos10 anos de idade e foi uma experiência marcante da minha vida. No primeiro dia que cheguei aqui foi bem diferente, pessoas estranhas que nunca tinha tido contato. Foi difícil, mas valeu a pena. Além de estudar, aqui aprendi a me virar, aprendi a cuidar das minhas coisas, de tudo um pouco. O ICPAC foi essencial para a criação da minha autonomia, como pessoa cega. Além disso, aqui viramos uma família. Carrego até hoje amizades construídas quando ainda era criança.

A primeira peça de que participei na vida, foi na festa de natal do Instituto, ainda na década de 70. A peça foi sobre uma menina pobre, que desejava ter alguns brinquedos que só eram acessíveis aos ricos. Veja que naquela época o Instituto já nos incentivava a pensar a questão social, o preconceito de classes. O espetáculo foi marcante para mim, meus pais vieram assistir. Foi especial.

Outra boa recordação aconteceu na terceira. Eu desenvolvi um seminário trabalho sobre a independência do Brasil. Uma apresentação lida, que fiz sozinha. Fiquei bastante orgulhosa, porque ganhei o primeiro lugar com ela. Também participei da bandinha que o Instituto mantinha à época. Nela, eu tocava alguns instrumentos e também me arriscava cantando. Foi bem legal para desenvolver minha comunicação interpessoal.

Aqui, fiz meu curso primário, e posteriormente, fui para a Escola Estadual Santa Júlia, cursar o Ensino Fundamental II e para o IEP, para concluir o Ginásio.

Minha primeira professora aqui do Instituto, Cícera Brito, me influenciou a ser professora. Eu me encantava com a maneira como ela tratava os alunos, a facilidade com que passava os conteúdos. As aulas dela criaram em mim o desejo de também lecionar, por isso, cursei o Liceo Pedagógico.

Saí do ICPAC em 1984 e cheguei a cursar parte da faculdade de Biblioteconomia, mas por falta de acessibilidade e dificuldades na Universidade, acabei desistindo do curso e me dedicando integralmente ao trabalho na Associação de Cegos (APACE).

Agora, em 2019, fui transferida da APACE, para o ICPAC, e desde então, estou trabalhando na biblioteca do Instituto. Um ofício muito especial, porque ajudo a desenvolver o gosto pela leitura nas pessoas. Faço um atendimento individual para estimular a leitura, cada um tem um perfil diferente. Dá gosto ver as pessoas viajando no universo da literatura. Me sinto muito útil. Imagina ajudar uma pessoa que ficou cega já adulta a desenvolver a leitura em braile e depois perceber como o estudante ficou independente. É muito gratificante.

Produção e Edição: Allan Oliveira