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quinta, 16 de janeiro de 2020

 

Por Allan Oliveira

As leis11.882/2010, do Município de João Pessoa, e nº 9800/2012, do estado da Paraíba obrigam bares e restaurantes a disponibilizarem cardápio em braile, com o intuito de garantir a acessibilidade a pessoas cegas e com baixa visão. No entanto, muitos estabelecimentos não têm seguido a lei. Embora a norma exista desde 2010, em João Pessoa, encontrar cardápios neste formato não é tarefa das mais fáceis. Regina Caldeira é deficiente visual e costuma solicitar o cardápio e ouvir que não há nenhum exemplar no local. “Embora haja leis que obriguem os estabelecimentos a disponibilizarem cardápios em braille, ainda há muitos que não as cumprem”, contou.

Regina, que trabalha como revisora braille, revelou ainda que a falta de cardápios adaptados para pessoas cegas não é o único problema na hora de ir a um restaurante. “A maioria dos funcionários não está preparada para atender pessoas com deficiência visual. É muito comum encontrar garçons que se dirigem a nossos acompanhantes para saber o que desejamos comer ou beber. Outros colocam pratos e copos à nossa frente sem nos informar disso, o que, muitas vezes, provoca situações constrangedoras. Esses são apenas alguns exemplos do despreparo do pessoal que trabalha nesses estabelecimentos”, desabafou.

Para amenizar estes problemas, Regina faz algumas recomendações: “o Sindicato dos Trabalhadores em Bares, Restaurantes e Similares deveria procurar as instituições que atendem as pessoas com deficiência visual a fim de, juntamente com elas, organizar palestras destinadas à orientação dos funcionários desses estabelecimentos. As pessoas que puderem assistir a essas palestras atuariam como multiplicadores entre seus colegas. Essa prática seria bastante proveitosa, pois as pessoas cegas, certamente, receberiam um melhor atendimento”, esclarece.

É importante ressaltar que a disponibilização de cardápios em braile não representa um alto custo para os estabelecimentos comerciais. O Instituto dos Cegos da Paraíba faz a impressão de cardápios a preços bastante acessíveis. Um valor baixo, que pode representar o aumento da autonomia de muitas pessoas.

Embora muitos restaurantes ainda não disponibilizem o cardápio, outros tantos já fornecem. Restaurantes como Bar do Cuscuz, Bahamas e Arpoador já tem a versão em braille do cardápio.

Eraldo Gurjão, um dos responsáveis do Igo´s Burger, hamburgueria com unidades no Shopping Tambiá e Shopping Sul, contou em entrevista como foi o processo para conseguir o cardápio em braille.

“O processo para a obtenção do cardápio em Braille foi bem simples, teve inicio com uma ligação para o ICPAC, que desde o primeiro contato sempre foi muito eficiente e nos explicou como se daria o processo de transcrição e impressão do cardápio. Temos a certeza que valeu apena, pois investir neste material facilita os pedidos dos clientes que não podem enxergar. Nós da Igo´s Burguer acreditamos que a inclusão é importantíssima, já que um estabelecimento que não se preocupa com causa tão nobre restringe seu público, dificultando a inclusão e a independência dos clientes. Nós acreditamos que o caminho é exatamente o de Integrar as pessoas com deficiência, é possibilitar que esse grupo tenha acesso aos direitos que são garantidos pela Constituição. No caso dos cardápios, a dignidade básica de cidadania, como a possibilidade de poder escolher o que comer utilizando um cardápio que lhes seja acessível.” Ressaltou Eraldo Gurjão.

Regina também fez questão de oferecer dicas que podem ajudar as pessoas com deficiência visual a contornar eventuais dificuldades em restaurantes, bares e lanchonetes:

– Escolher bem o restaurante. Se for self-service, melhor ir acompanhado; se não, pergunte se há um funcionário que possa descrever os alimentos e onde eles estão.

– Já na chegada, esclarecer ao funcionário (hostess, maitre ou garçom) que é deficiente visual.

– Pedir para sentar na área de maior fluxo de garçons (para facilitar a solicitação dos serviços).

– Cardápio em braille é lei – portanto, exija: se não houver, peça para o garçom ler os itens, os produtos e os preços.

– É conveniente pedir a disposição dos alimentos (onde está cada alimento no prato).

– Solicitar que certos alimentos, como carnes venham previamente cortados.

– Na hora da conta, pedir para que o garçom leia item por item; nada disso é favor, mas sim obrigação do restaurante para com o cliente.