No dia 06 de novembro de 1949, em um domingo, foi realizada a solenidade de lançamento da primeira pedra da sede própria do Instituto dos Cegos da Paraíba. E a fundadora, Adalgisa Cunha, preparou um belíssimo discurso para a ocasião:
“Sob a forma de ação positiva concretiza-se, hoje, um supremo ideal! - O ideal dos que vivem na sombra do destino, mas que, mesmo de asas cortadas, tem coração para amar, espírito para lutar e vencer.
Os cegos paraibanos terão, em breve, o teto protetor e amigo, onde, confiantes e seguros, se aperfeiçoarão e se tornarão aptos a vencer na vida.
Não se acumulam, porém, forças positivas sem grande esforço - e assim, teremos os maus dias de todas as empresas destinadas a fins humanitários, - mas, acima de tudo estará, vigilante e acesa, a proteção divina aliada a boa vontade dos homens generosos.
Dizem que - na felicidade não sobra tempo para se pensar nas dores alheias - eu, porém, prefiro aliar-me a outros, menos céticos, que afirmam: “Toda alma feliz e crente, vê em tudo a imagem de Deus”.
E onde se poderá retratar, com maior nitidez, a imagem de Deus senão nas obras de caridade?
Sob que forma mais sublime poderemos agradecer os benefícios que a Providência nos concede, o conforto na existência, a precisa regalia de ver a natureza com todos os seus incomparáveis encantos; a facilidade de locomoção sem a dependência opressora de um guia; e, deste modo, senhores - inflamados pela divina chama do amor que todo ser cristão e pensante deve possuir no recesso de seu coração, deveis, num impulso de simpatia e de solidariedade humana, lembrar-vos de que, aqui, abra-se, hoje, um vasto campo de ação humanitária: - a casa própria para os cegos paraibanos!
São limitadíssimas as fronteiras de nossas possibilidades, vós o sabes.
Quando, porém, uma iniciativa qualquer visa finalidade tão elevada, não se reconhecem fronteiras!…
O dedo de Deus bate-nos a porta sob as mais variadas formas, assim é que, logo aos primeiros passos para a efetivação desta obra surge o Dr. Targino Costa, oferecendo-se, num generoso desprendimento, para dirigir os trabalhos desta construção.
O bonito gesto do Dr. Targino é louvável e digno de imitação.
Estou certa de que não sofrerá solução de continuidade a construção da casa dos cegos - que entrego ao valioso patrocínio do digno governador do Estado; do operoso governador da cidade; do humanitário industrial Dr. Virginio Veloso Borges; dos generosos Srs. João Fernandes Lima Antonio Mendes Ribeiro, Ascendino Nobrega e demais capitalistas conterrâneos.
Terminando, convido o Sr. Prefeito, aqui presente, para o lançamento da primeira pedra destinada a construção do prédio próprio para os cegos paraibanos.”
Após 72 anos do lançamento da pedra fundamental e 77 anos de existência, o Instituto dos Cegos da Paraíba segue em contínuo desenvolvimento, sempre guiado pelo exemplo de Adalgisa Cunha e firme no seu propósito de inclusão e reabilitação social.
Fonte: Jornal "A Imprensa" - Sábado, 12 de Novembro de 1949
Comentários