Logomarca do Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa Cunha

Foto de perfil de Beto Melo

Nasci em 18 de setembro de 1959, no povoado quilombola Pituaçu, na cidade do Conde. Eu sou cego de nascença. O único dentre os sete filhos que meus pais tiveram.

Em 1964, meu pai trouxe toda a família para João Pessoa, devido ao trabalho. Pouco tempo depois de nos mudarmos, a minha mãe acabou falecendo durante um trabalho de parto, acometida por eclampsia, que é quando a pressão arterial da parturiente sobe demais. Eu era muito pequeno e senti muito a ausência dela.

Foi bem complicado para o meu pai cuidar da gente, enquanto trabalhava, por isso, nossas avós ajudaram bastante. Resolveram que seria melhor levar-nos para o sítio da minha avó, pois lá ficaria mais fácil dela nos dar atenção. Até que em março de 1965, depois de uma certa relutância, meu pai me trouxe para o Instituto dos Cegos, que na época, funcionava em esquema de internato. Os alunos passavam todo o semestre aqui. 

Na época, eu tinha 5 anos de idade. Eu era o mais novo do Instituto, e por isso, a adaptação não foi fácil. Eu costumava chorar muito durante as tardes, devido à saudade de casa e distância da família, porque o meu pai costumava vir me visitar apenas uma vez por mês.

O que ajudou bastante na minha adaptação, foi ingressar na bandinha rítimica do ICPAC. Já naquele tempo, havia aqui no Instituto, um forte estímulo à iniciação musical dos internos. Tínhamos um coral de adultos e outro apenas de crianças, o que auxiliou na minha socialização. Eu me encantava ouvindo os meninos tocando sanfona, outros garotos cantando e ali fui distraindo a mente e me adaptando à nova realidade.

Quando eu tinha por volta de 8 anos, meu pai me disse que queria que eu aprendesse a tocar sanfona, para que eu pudesse tocar no aniversário de 40 anos dele. Foi quando iniciei minhas aulas de acordeon. Porém, por ser muito novinho, acabava deixando as lições de lado para ter mais tempo de brincar. Foi quando percebi que eu estava muito mais interessado em instrumentos de percusão e acabei indo tocar zabumba na bandinha do Instituto. Minha afinidade com a música foi se acentuando ao longo do tempo, até que virei o músico oficial da Instituição, durante meu tempo de interno. Eu já tocava vários instrumentos, nessa época.

Em 1979, comecei a trabalhar aqui no ICPAC através de um contrato com a prefeitura de João Pessoa, e fiquei até o ano de 1990, quando fui assumir um cargo na SOCEP/APACE, Associação Paraibana dos Cegos. Em 2017, retornei ao trabalho aqui, exercendo minha função atual de professor de braille. Entre 1980 e 1985, cursei o bacharelado em Comunicação Social, pela UFPB, o que melhorou minha atuação como compositor. Inclusive, lançarei um novo trabalho em breve.

A minha musicalidade é toda envolvida com o Instituto. Eu digo sem medo de errar, o Instituto dos Cegos, junto com a minha mãe, são os grandes responsáveis por quem sou hoje. Aqui é minha segunda casa, a nave mãe da minha história, me sinto muito bem aqui. Enquanto eu viver, farei tudo o que puder para o bem da nossa escola.